Verde. Tudo era verde, o rio, a selva e o céu também.
Cada viagem foi um salto à incerteza: contatos clandestinos, mensagens em código, lugares sem nome no mapa, travessias eternas na canoa, moto, mula e a pé. Dias divagando pelas montanhas e os rios da Colômbia.
Já não sei quantas vezes pendurei e retirei a minha rede. Esta foi a minha casa na selva durante muitos anos. Frio, calor, chuva ou sol. Deitei na rede quando estive doente e usei como refúgio nos meus momentos de angústia. Muitas noites olhei para o céu desesperado e com medo, outras eu dormi confiando na esperança de paz. Sempre embalado pelo som da brisa nas folhas das árvores, o som de um rio e cercado pela selva, eu temia que o estrondo de uma bala ou bomba explodisse na noite e destruísse tudo.
Cada passo e cada foto me desafiaram, hesitei e tremi. Não estou de acordo com o uso das armas em nome da paz e da justiça.
As condições que motivaram a origem desta guerrilha não se resolveram. Muitas regiões seguem abandonadas e não tem uma resposta do Estado aos temas básicos como saúde, educação, moradia, terras, meio ambiente e sustentabilidade.
Hoje, cinquenta e sete anos depois de ter começado a guerra e com um acordo firmado que propõe uma rota para caminhar até a saída do conflito, a desigualdade e o medo são cada dia piores. As vítimas e aqueles que dispararam as armas são quase sempre irmãos de uma mesma classe: pobres, filhos de outros pobres. Aqueles que enriquecem com a guerra não parecem dispostos a maiores mudanças.
Na Colômbia, a morte e o deslocamento forçado se converteu em uma paisagem cotidiana, em manchetes de jornal, em cifras de relatórios burocráticos.
Quero enviar um abraço a todas as vítimas das violências, aos que choram seus entes queridos, aos que tentam continuar adiante apesar de morar em um país que tem visto a violência e sangue durante décadas e que a única constância é o medo. Quero dedicar estas páginas com respeito e amor, por sua dignidade e por aqueles que já não estão.
Federico Rios Escobar
Texto publicado no livro Verde, de Federico Rios Escobar