“Nenhum poder de pedra que estanque o jorro das gotas sedentas por ver o sol” é o título da obra instalação de Masina Pinheiro e Gal Cipreste, parte do projeto GH, em desenvolvimento desde 2019. A partir de suas experiências pessoais, as artistas usam diferentes linguagens, mídias e colaborações para refletir sobre a existência de pessoas LGBTQIA+ que navegam entre gêneros.
Aos 10 anos, Masina, apelidada de Hiroshima (por ter nascido no mesmo dia da bomba), foi apedrejada. A sua aparência era muito ambígua. Em paralelo, Gal, criada em uma família católica, começa a usar salto alto. Sua identidade não-binária é razão para um desequilíbrio familiar. Gal nasceu no mesmo dia que Harry S. Truman, o presidente que lançou a bomba.
O trabalho é concebido no contexto da violência de gênero que impera nos dias atuais. A enorme calça, criada em diálogo com o estilista Guto Carvalhoneto, transforma as experiências em metáforas de autodefesa, cuidado e autonomia. Ela representa pesadelos, padrões, perseguições, devoção, água correndo, obstáculos, vida.
A dolorosa beleza desta obra ilustra um importante tema social – a luta cotidiana de uma comunidade – e se insere na longa história da representação de gênero e de corpes dissidentes.
ioana mello