A exposição “De frente” da fotógrafa francesa Camille Gharbi, analisa a violência doméstica por meio de sua expressão mais extrema: o feminicídio conjugal. Na França, assim como no Brasil, as mulheres são submetidas à violência em suas próprias casas, e os autores dessa violência são, em sua maioria, pessoas conhecidas da vítima.
Para dar conta da complexidade do tema, a artista opta por se distanciar de imagens espetaculares, e nos mostra que objetos corriqueiros, pessoas comuns e lugares ordinários transbordam para além de seu significado imagético. Camille trabalhou de 2019 a 2022 transitando entre a fotografia documental, a arte visual e a escuta. Ela nos apresenta três visões: ‘Provas de amor”, “Os monstros não existem” e “Um quarto só seu”. Seu primeiro enfoque é nos objetos do cotidiano transformados em armas. Sem nenhum adorno, ela exibe objetos e uma lista de nomes: mulheres vitimas de feminicídio em 2017.
Ela então se vira para os algozes: quem são esses homens que matam mulheres? Por meio dessas histórias individuais, contadas em imagens e palavras, é a sociedade como um todo que deve encarar de frente suas violências e desconstruir sistemas de pensamento, buscando soluções construtivas e repensando a base.
Finalmente, Camille fecha sua narrativa retratando os refúgios, simbólicos e reais, de mulheres vítimas de violência conjugal. No abrigo francês “FIT”, que acolhe jovens de 18 a 25 anos, ela escuta cada mulher e fotografa seu quarto. Os três víeis de seu trabalho nos mostram que uma profunda banalidade se destaca da violência desses assassinatos, e escancaram a brutalidade e injustiça do nosso mundo contemporâneo.
ioana mello – Curadora